quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Análises de Poemas Simbolistas #1 (Núbia, Giovanna, Pedro, Leonardo e Sidney)

Neste post estão as análises de 5 poemas do Simbolismo brasileiro.
A primeira análise foi elaborada pela Núbia Vieira Costa, trazendo a obra "A Passiflora" de Alphonsus de Guimaraens:

A Passiflora
Alphonsus de Guimaraens
A Passiflora, flor da Paixão de Jesus,
Conserva em si, piedosa, os divinos Tormentos:
Tem cores roxas, tons magoados e sangrentos
Das Chagas Santas, onde o sangue é como luz.

Quantas mãos a colhê-la, e quantos seios nus
Vêm, suaves, aninhá-la em queixas e lamentos!
Ao tristonho clarão dos poentes sonolentos,
Sangram dentro da flor os emblemas da Cruz...

Nas noites brancas, quando a lua é toda círios,
O seu cálice é como entristecido altar
Onde se adora a dor dos eternos Martírios...

Dizem que então Jesus, como em tempos de outrora,
Entre as pétalas pousa, inundado de luar...
Ah! Senhor, a minha alma é como a passiflora!

Vocabulário
1.    Passiflora: s.f. Gênero de plantas da América tropical e da Ásia, que deve seu nome à forma de suas flores, cujos órgãos representam os instrumentos da Paixão (coroa de espinhos, pregos, martelo etc.). (http://www.dicio.com.br/passiflora/)

“A Flor de Maracujá significa a Paixão de Cristo, por isso, é também conhecida como “Flor da Paixão”.
Quando os missionários europeus chegaram à América, se encantaram com a exuberância da flor e associaram de imediato alguns dos seus elementos ao calvário de Cristo. Por esse motivo a flor de maracujá também significa "Coração Ferido".
A simbologia da flor de maracujá foi relacionada da seguinte forma: os três estigmas correspondiam aos três cravos que prenderam Cristo na cruz; as cinco anteras representavam as cinco chagas; as gavinhas eram os açoites usados para o martirizar; por fim, no formato da flor era visível a imagem da coroa de espinhos levada por Cristo para o ato de crucificação.
Os tons de roxo que colorem a flor simbolizam o sangue derramado por Jesus Cristo. Aliás, a cor roxa é usada nos rituais cristãos durante a Semana Santa.”            (http://www.significados.com.br/flor-de-maracuja/)

2.    Chaga: s.f. Lesão na carne causada por ferimento, queimadura ou tumor; o próprio ferimento ou a ferida aberta.
(http://www.dicio.com.br/chaga/)

3.    Emblema: s.m. Figura simbólica (às vezes acompanhada de uma divisa) que representa uma coletividade, corporação, agremiação; escudo: o emblema de muitos clubes esportivos tem a forma de um escudo.
(http://www.dicio.com.br/emblema/)

4.    Círios: s.m. Grande vela de cera usada nas igrejas.
Romaria na qual se leva um círio de um local para outro.
(http://www.dicio.com.br/cirio/)

5.    Cálice: s.m. Copinho para licores e vinhos fortes: um cálice de conhaque.
Vaso sagrado em que se põe o vinho durante o sacrifício da missa.
(http://www.dicio.com.br/calice/)

6.    Martírio: s.m. Grande tormento sofrido por causa da fé: Jesus sofreu martírio.
P.ext. Sofrimento excessivo: a miséria é um verdadeiro martírio.
(http://www.dicio.com.br/martirio/)

Análise do poema



Trata-se de um soneto esta obra de Alphonsus de Guimaraens, portanto, é composto por quatorze versos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos, que por sua vez são compostos por versos alexandrinos, ou seja, com doze sílabas poéticas cada. As rimas opostas são dispostas em ABBA ABBA CDC EDE.

A musicalidade, típica do movimento simbolista, é suscitada neste poema através da métrica, das rimas, bem como das aliterações do som de “s” ao longo de todo o poema através de “s” “ss” e “z” e também do som das consoantes palatais pelo uso repetido de “x” “ch” “j” e “g”, tomemos por exemplo a primeira estrofe da obra:

A Passiflora, flor da Paixão de Jesus,
Conserva em si, piedosa, os divinos Tormentos:
Tem cores roxas, tons magoados e sangrentos
Das Chagas Santas, onde o sangue é como luz.
           


Nesta primeira estrofe, Alphonsus descreve o símbolo a ser trabalhado durante o poema: a passiflora, comumente chamada de flor do maracujá. Planta esta que ficou conhecida como “Planta da Paixão” pela associação de suas características com o sofrimento de Jesus. É justamente esta a alusão que o poeta faz na primeira estrofe, afirmando que a passiflora conserva os divinos tormentos através de suas cores roxas que representam as chagas de Jesus, este que tem, no poema, seu sangue comparado à luz.

Na estrofe seguinte o autor menciona as muitas almas sofridas que, em momentos de desespero, choram agarradas à Passiflora, em que, por sua vez, os emblemas da cruz “sangram”, metáfora utilizada para destacar o sofrimento que a “flor” (representando Jesus) sentia por conta dos lamentos que ouvia.

Nas duas estrofes finais, Alphonsus Guimaraens narra a relação de Jesus com a flor que representa sua paixão: nos dias em que o luar é tão claro que parece composto pelas grandes velas usadas na igreja, o céu se torna um altar onde se adora a dor dos eternos sofrimentos. E são nessas noites, que, inundado de luar, Jesus pousa sobre as pétalas da passiflora.

É importante destacar para a interpretação do poema o último verso da obra:

Ah! Senhor, a minha alma é como a passiflora!

Este verso pode representar tanto o desejo do eu-lírico em ter em sua alma a presença de Jesus, ou seja, achegar-se a Ele, como também o sofrimento pelo qual essa alma passa, visto que nas primeiras estrofes o poeta destaca as marcas que a passiflora carrega como lembranças de suas chagas. Também merece destaque a entonação de lenda ou história popular dada pelo uso de “Dizem que” no primeiro verso da última estrofe, este uso pode ter sido causado para efeito de distanciamento ou de necessidade de confirmação daquilo que se apresenta, já que é algo colocado como sabido por todos, de conhecimento geral ou de pelo menos grande parte.

Através deste poema repleto de referências católicas pôde se notar algumas das características principais da poesia de Alphonsus de Guimaraens: ser marcadamente mística e envolvida com a religiosidade cristã católica.


A segunda analise, feita por Giovanna Cordeiro Nunes traz a obra  "É o Silêncio..." de Pedro Kilkerry:

É o Silêncio…
Pedro Kilkerry

É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa.
Olha-me a estante em cada livro que olha.
E a luz nalgum volume sobre a mesa…
Mas o sangue da luz em cada folha.
Não sei se é mesmo a minha mão que molha
A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.
Penso um presente, num passado. E enfolha
A natureza tua natureza.
Mas é um bulir das cousas… Comovido
Pego da pena, iludo-me que traço
A ilusão de um sentido e outro sentido.
Tão longe vai!
Tão longe se aveluda esse teu passo,
Asa que o ouvido anima…
E a câmara muda. E a sala muda, muda…
Áfonamente rufa. A asa da rima
Paira-me no ar. Quedo-me como um Buda
Novo, um fantasma ao som que se aproxima.
Cresce-me a estante como quem sacuda
Um pesadelo de papéis acima…
……………………………………………………………..
E abro a janela. Ainda a lua esfia
últimas notas trêmulas… O dia
Tarde florescerá pela montanha.
E ó minha amada, o sentimento é cego…
Vês? Colaboram na saudade a aranha,
Patas de um gato e as asas de um morcego.
Nota-se que o poema não conta com forma fixa e nem com regularidade na métrica, porém conta com rimas alternadas. Lembrando que este é um poema simbolista, o fato de Kilkerry não focar na forma e sim na musicalidade do poema trabalhando as rimas nos leva diretamente à análise, lembrando sempre que é uma obra simbolista e que obras dessa época primam pela musicalidade como característica poética essencial.

A primeira parte do poema descreve uma cena estática, sem movimento, completamente mergulhada no silêncio (silêncio esse já aludido no título):

“É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa.
Olha-me a estante em cada livro que olha.
E a luz nalgum volume sobre a mesa…
Mas o sangue da luz em cada folha.
Não sei se é mesmo a minha mão que molha
A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.
Penso um presente, num passado. E enfolha
A natureza tua natureza.”

Depois, percebe-se um início de agitação na cena, uma movimentação por parte do eu-lírico:

“Mas é um bulir das cousas… Comovido
Pego da pena, iludo-me que traço
A ilusão de um sentido e outro sentido.
Tão longe vai!”

E daí até o fim do poema, o poeta evoca uma série de imagens que apresentam movimentos silenciosos, tais como “aveluda esse teu passo”, “paira-me no ar”, “um fantasma ao som que se aproxima”.

Sabendo dessa sequência de silêncio à movimento à movimentos silenciosos que ocorre no poema, pode-se ver que tanto a forma quanto a mensagem dessa obra de Kilkerry nos diz uma única coisa: a musicalidade é o que importa. Pois como está escrito em um verso “o sentimento é cego”, porém não surdo. A musicalidade está bem expressa no poema através das rimas e a condução dos versos entre aliterações e assonâncias como em “É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa” e “A ilusão de um sentido e outro sentido”

 Tudo o que poemas tentam nos trazer é sentimento sobre algo e se esse mesmo sentimento é cego, então chegaremos nele através da música.


A Terceira análise, de Pedro Victor Costa Sales é do poema de Cruz e Sousa "Inefável" e uma comparação entre o simbolismo e o parnasianismo:



INEFÁVEL

Cruz e Souza

Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda...
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.


Sou como um Réu de celestial sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
De estrelas todo o céu em que erra e pensa.

Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outras mais serenas madrugadas!

Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim porque eu as amo
Na minha alma volteando arrebatadas



Este poema é um soneto. As rimas são ABBA na primeira estrofe, CDDC na segunda e EEFGGF nas duas últimas que são tercetos.

O poema começa com o eu-lírico contando que nada o domina quando sua alma desperta com alvoroço de emoção, no caso amor. A segunda estrofe conta que o eu-lírico está preso ao amor e que tudo que ele pensa e remete a este sentimento. As duas últimas estrofes falam desse amor e de como ele age nos sentidos do eu-lírico: na terceira estrofe ilumina a visão e na quarta as vozes que ele ama e pensa são ouvidas por sua alma.

O poema conta dos sentimentos de um eu-lírico que ama e que é dominado por esse amor. A visão dele é de esplendor, mas o amor o domina de tal forma, como mostrado na segunda estrofe, que fica difícil interpretar que aja racionalidade em seus sentimentos. O eu-lírico ama, ama perdidamente, ama profundamente e está preso e cercado por esse amor.

O sentimento é claramente muito profundo e chega a inebriar e iludir os sentidos do eu-lírico como mostrado nas duas últimas estrofes, o que leva o poema para um lado que foge desse amor utópico e chega a ser negativo. Nessa segunda interpretação é possível pensar no amor como algo que por mais que seja forte e desperte a alma também ilude, destorce (como faz com a visão e audição do eu-lírico) e escraviza (como o que acontece na segunda estrofe).



O poema avança profundamente nos sentimentos humanos (no caso o amor) e expõe dois lados dele. O título “Inefável” se encaixa nesse poema, pois passa ideia de que o inebriante, encantador e indescritível.

Movimentos literários:
Simbolismo
Parnasianismo
Poemas:
ENCARNAÇÃO

Carnais, sejam carnais tantos desejos, 
carnais, sejam carnais tantos anseios, 
palpitações e frêmitos e enleios, 
das harpas da emoção tantos arpejos... 

Sonhos, que vão, por trêmulos adejos, 
à noite, ao luar, intumescer os seios 
láteos, de finos e azulados veios 
de virgindade, de pudor, de pejos... 

Sejam carnais todos os sonhos brumos 
de estranhos, vagos, estrelados rumos 
onde as Visões do amor dormem geladas... 

Sonhos, palpitações, desejos e ânsias 
formem, com claridades e fragrâncias, 
a encarnação das lívidas Amadas
A CAVALGADA

A lua banha a solitária estrada... 
Silêncio!... mas além, confuso e brando, 
O som longínquo vem se aproximando 
Do galopar de estranha cavalgada.
São fidalgos que voltam da caçada; 
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando, 
E as trompas a soar vão agitando 
O remanso da noite embalsamada...

E o bosque estala, move-se, estremece... 
Da cavalgada o estrépito que aumenta 
Perde-se após no centro da montanha...

E o silêncio outra vez soturno desce, 
E límpida, sem mácula, alvacenta 
A lua a estrada solitária banha... 
Autores:
Cruz e Sousa
Raimundo Correa
Estrutura:
Soneto, versos de dez sílabas poética (decassílabo), Rimas ABBA nos dois quartetos e CCDEED nos tercetos.
Soneto, versos de dez sílabas poética (decassílabo), Rimas ABBA CDDC nos dois quartetos e EFGEFG nos tercetos. Formado por algumas rimas ricas: montanha/banha, aumenta/alvacenta.
Linguagem:
Uso de metáforas para esconder o verdadeiro sentido do que é dito como em: “das harpas emoções tantos arpejos”. Neste trecho o arpejo da harpa se refere aos sons dos gozos sexuais.
O poema usa uma linguagem mais direta, apenas abusa da erudição na escolha de palavras buscando uma grande apreciação estética
Narrativa:
Neste poema o Eu-lírico deseja que os desejos e sonhos carnais e mais sensuais sejam realizados, ele divaga sobre esses profundos sonhos humanos querendo que eles se tornem verdade.
O poema fala de uma estrada silenciosa banhada pela lua, o silencio é rompido quando a estrada é atravessada por tropas em seus cavalos, ele (o poema) parte do silencio da estrada banhada pela lua, depois passa para o barulho das tropas e o estremecer da estrada e do bosque, e por fim depois da partida da tropa a estrada volta para o silêncio

Usando esses dois poemas e suas narrativas para compararmos o Simbolismo e o Parnasianismo vemos que o simbolismo tende a ter uma poesia mais sugestiva, interior e que trata de temas humanos, enquanto o parnasianismo é uma arte fechada no descritivismo, sem grandes avanços filosóficos, emocionais.
A poesia parnasiana tenta ser bela para ser bela (arte pela arte) sem um real objetivo, ou tema a ser discutido. No caso da poesia analisada é apenas a descrição de uma estrada onde passa uma tropa.
Já o poema Simbolista trata de um tema interior do homem (o desejo), ele passeia nesses desejos através de uma linguagem subjetiva e metafórica.

A Quarta análise, de Leonardo Silva Coelho traz a obra
 "O Assinalado" do cruz e souza:

O Assinalado
Cruz e Souza
Tu és o louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A Terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.

Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tu’alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco…

Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!




Este soneto de Cruz e Souza, organizado em versos decassílabos e com esquema de rimas ABBA ABBA CCD EED, pode ser interpretado como um meta-poema, ou seja, um poema que fala sobre o próprio fazer poético e suas adversidades.

Já primeiro quarteto, notamos que o autor por começar o poema evocando a segunda pessoa do singular (tu), dirige seu discurso a algum ser que por algum motivo ainda não revelado pode ser considerado fora de seu juízo e está preso à materialidade representada pela Terra. Revela também que quem o prende este sofrimento são as desventuras por esta pessoa sofridas.

Na segunda estrofe, o poeta começa com a conjunção adversativa “mas”, o que revela que ele ira discordar da ideia apresentada anteriormente, e ele o faz revelando que justamente essas amarras materiais e as desventuras por que esta personagem a que ele se refere passa, são fonte de seu sofrimento porém que este sofrimento profundo é o que faz aflorar as coisas boas e a ternura no sujeito ainda não especificado.

No primeiro terceto, O eu lírico finalmente nos revela a quem ele se refere, ao poeta, que é o grande assinalado, ou seja, o poeta e a pessoa marcada para viver estes sofrimentos e povoar este território vazio e malogrado gradualmente com suas palavras, eternizadas em forma de poesias.

Por fim, na ultima estrofe, Cruz e Souza concluí afirmando que mesmo que se passe por todos esses sofrimentos e desventuras para lograr o fazer poético, esse ainda é um esforço valoroso, porém retoma a certa doze de loucura que esta busca eterna busca exige do poeta que se arrisca a vive-la.

Se levarmos em consideração alguns aspectos biográficos de Cruz e Souza, podemos interpretar este poema como uma mensagem para si mesmo, pois por ser poeta e negro, seu autor sofreu durante toda sua vida adulta as mais diversas formas de preconceito e teve grandes dificuldades para sobreviver como escritor e jornalista.




E por fim, a última análise feita por Sidney Lopes Brito de "Vida Obscura", também de Cruz e Sousa:

Vida Obscura
Cruz e Sousa
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste num silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo! 

Vemos que este é um soneto de Cruz e Souza que obedece a sua estrutura básica de dois quartetos e dois tercetos. Com a leitura pudemos perceber que se trata de um desespero e a aflição do eu poético se confunde com a do poeta. Mesmo o ser estando na obscuridade, não está imune aos sofrimentos. O uso da palavra “embriagado” tanto pode significar extasiado, quanto bêbado, mas na primeira hipótese, nem mesmo esses prazeres fizeram a vida dele ser mais amena. O eu lírico traduz em sinestesias este sofrimento, vemos que “o silêncio escuro” pode representar uma vida sombria, sem emoções, presa a tarefas difíceis, parece que conquistar esse saber foi penoso, mas o tornou mais puro. Mostra uma agonia da incerteza, como se não houvesse luz na escuridão.

Essa obscuridade está presente na terceira estrofe. Ele sofreu no anonimato, ninguém percebeu seu sofrimento, tampouco o ajudou. Seu coração foi apunhalado por essa mágoa secreta, por essa falta de atenção, de amor. O poeta interfere no soneto, mostrando que sempre esteve presente, que compreende a dor do ser. O momento do suspiro profundo pode significar a libertação ou a morte do eu poético. Na última estrofe o poeta faz uma analogia com a crucificação de Cristo que carregou a cruz até o local da execução, cujo trajeto público e penoso foi denominado de Via Crucis.

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