SIMBOLISMO no BRASIL e no MUNDO
Integrantes: Clara, Bruno, Claudia, Meire e Fernando
O blog tem a missão de proporcionar aos estudantes, professores, leitores e vestibulandos um espaço a pesquisa. O trabalho foi baseado na análise de poemas simbolistas e um parnasiano. Diante disso, agradecemos os comentários a cerca do trabalho. Pois, o intuito é alimentar o blog com informações ou sugestões enriquecedoras.
Por Clara Silva
Celeste
Celeste
Vi-te crescer! tu eras a criança
A
Mais linda, mais gentil, mais
delicada: B
Rimas interpoladas
Tinhas no rosto as cores da
alvorada B
E o sol disperso pela loira
trança. A
Asas tinhas também, as da esperança...
A
E de tal sorte eras sutil e
alada B
Rimas interpoladas
Que parecias ave
arrebatada B
Na luz do Espaço onde a razão descansa!
A
Depois, então, fizeste-te
menina, C
Visão de amor, puríssima,
divina, C
Perante a qual ainda hoje me
ajoelho. D
Rimas emparelhadas
Cresceste mais! És bela e moça
agora... E
Mas eu, que acompanhei toda
essa aurora, E
Sinto bem quanto estou ficando
velho D
Análise estrutural
Soneto decassílabo
Rimas interpoladas nos quartetos:
ABBA ABBA e emparelhadas nos tercetos
Rimas soantes agudas: criança/trança/esperança/descansa; delicada/alvorada/alada/arrebatada;
menina/divina; agora/aurora
Rimas graves imperfeitas:
ajoelho/velho
Rimas ricas: esperança/descansa;
alada/arrebatada; agora/aurora
Metáforas, símile e sinestesia
destacadas em negrito
|
O soneto de Cruz e Sousa apresenta uma
linguagem simples cheia de verbos de ligação e adjetivos que caracterizam o
estado de alma do eu-lírico e a essência de sua interlocutora, por assim dizer.
As construções verbais no passado nos dois quartetos vivificam a memória do
eu-lírico, suas lembranças são marcadas por metáforas e pela caracterização
quase romântica de sua celeste. Rememora quando esta figura
feminina ainda na mais tenra idade tinha as faces rubras, figuradas pelas cores
da alvorada de sua vida, que então despontava como o raiar da manhã, na qual o
sol, acabado de nascer dá aos cabelos da menina, suas cores primárias e
luminosas. No segundo quarteto outra metáfora caracteriza a moça pela leveza
das asas de uma ave sutil e de agradável presença. A esperança aparece
travestida de ave, o que nos leva a crer que a própria criança representa
simbolicamente uma confiança no futuro ainda distante. O jogo entre Espaço e o
título do poema, Celeste, sugere muito sobre a forma como a menina se relaciona
com o meio em que estava inserida. Este meio representado pelo Espaço
onde, cercado por adultos, a razão, a intelectualidade e teorias quânticas da
existência são seus mais prototípicos elementos, aquele corpo celeste viria
como uma contraposição da dureza desta tradição cientificista, como o
simbolismo procurou tratar as mudanças sociais nos fins do século XIX e início
do século XX. Esta figura celeste, com sua beleza, amabilidade e sutilezas não
se estanca neste estágio; o eu-lírico descreve com igual devoção a segunda fase
da vida desta figura feminina, período que corresponderia à segunda infância e
pré-adolescência nos termos etários não poéticos. O eu lírico permanece em
seu estado de admiração e enlevo pela celestial menina,
elevando-lhe agora sua caracterização culminando no adjetivo divina, ponto
supremo de transcendência e imaterialidade da menina que acompanha. Marca sua
admiração e a manutenção de seu encantamento ao finalizar a terceira estrofe
com o verbo no presente. Todos estes elementos anteriormente mencionados são
ainda motivo de devoção. Esta espécie de gradação temporal com os verbos de
ligação no pretérito, sobretudo, estabelecem um plano de correspondências no
soneto, fechando o último terceto com o paralelismo que o eu-lírico estabelece
entre ele mesmo, agora velho, e a celeste agora moça.A
passagem do tempo, uma das grandes temáticas da estética simbolista está
presente neste texto e de forma sutil, com diferentes recursos expressivos,
constrói um percurso metafórico bastante importante e melancólico desde o
nascimento até a velhice fazendo uma outra correspondência entre a aurora do
dia e a vida.
A aurora da vida
da celeste mais que uma experiência particular pode ser tomada
como metonímica da experiência humana, em que todos nascem, crescem, e um dia
chegam ao final da aurora, ou pôr do sol. Este final da vida, apesar de não
retratado explicitamente traz ao eu-lírico uma melancolia e sensação de
passagem do tempo inevitável e inerente à existência, que acumula sensações,
memórias e experiências significativas tanto interiormente quanto em contato
com o outro.
Por Bruno Magalhães
DILACERAÇÕES |
Ó carnes que eu amei
sangrentamente,
Ó volúpias letais e dolorosas,
Essências de heliotropos e de
rosas
De essência morna, tropical,
dolente...
Carnes virgens e tépidas do
Oriente
Do Sonho e das Estrelas
fabulosas,
Carnes acerbas e maravilhosas,
Tentadoras do sol
intensamente...
Passai, dilaceradas pelos zeros,
Através dos profundos pesadelos
Que me apunhalam de mortais
horrores...
Passai, passai, desfeitas em
tormentos,
Em lágrimas, em prantos, em
lamentos,
Em ais, em luto, em convulsões,
em cores...
|
O 'Eu' lírico do poeta conversa com o
locutário sobre o comportamento do ser humano e a interação dele com a própria
alma e as outras almas, fala também da imortalidade da alma.
Quanto a estrutura o poema apresenta as
características do soneto: Assonância: estranha, imensa, música,
sombria, tremenda, absurda, imponderada, larga: repetição de sons vocálicos
idênticos (vogal A), contribuindo para a musicalidade.
Esquema rímico: ABBA ABBA CCD
CCD
Palavras de destaque: carnes,
volúpias (prazeres), dolente, acerbas (azedas, cruéis), pesadelos, apunhalam,
mortais horrores, tormentos, lágrimas, prantos, lamentos, luto, convulsões.
|
O poema Dilacerações, de Cruz e Sousa,
evoca as lembranças afetivas do eu-lírico para com a carne, definida por ele
através das antíteses “volúpias letais e dolorosas” e “acerbas e maravilhosas”.
A ideia construída pelo poema parece almejar o desprendimento do que é
concreto, da carne, já que ela, apesar de ter sido maravilhosa, apunhala o
eu-lírico pelas costas através de pesadelos e acaba por desmanchar-se em
lágrimas, prantos, lamentos, ais, luto, convulsões e cores.
Os últimos versos deixam claro que os
prazeres passam, mas eles acabam por deixar consequências: a tristeza e o
sofrimento. As expressões “passai, passai” do eu-lírico também expressam um
sentimento de desejo que se contrapõe ao das duas primeiras estrofes: apesar de
reconhecer o sofrimento nas duas primeiras estrofes, a carne ainda é prazerosa,
mas, nas duas últimas, o desejo já é o de que estes sentimentos vão embora.
Estas ideias também podem ser representadas pelo próprio esquema rímico, já que
as duas primeiras estrofes e as duas últimas possuem um padrão — ABBA e ABBA,
representando o mesmo desejo do prazer, e CCD e CCD, representando a vontade de
que o sofrimento consequente do prazer acabe. Uma característica bastante
forte do poema é a constante incidência da consoante “S” durante a leitura,
que, em termos onomatopaicos, pode representar uma turbulência ou até mesmo uma
tentativa de demarcar todo o poema com o “S” da palavra sofrimento.
Por Claudia Faria
Pacto das Almas - (II) Longe de tudo
É livre, livre desta vã matéria, A
Longe, nos claros astros
peregrinos B
Que haveremos de encontrar os dons
divinos B
E a grande paz, a grande paz sidérea. A
Cá nesta humana e trágica
miséria, A
Nestes surdos abismos assassinos B
Temos de colher de atros
destinos B
A flor apodrecida e deletéria. A
O baixo mundo que troveja e brama C
Só nos mostra a caveira e só a
lama, C
Ah! só a lama e movimentos lassos... D
Mas as almas irmãs, almas
perfeitas, E
Hão de trocar, nas Regiões
eleitas, E
Largos, profundos, imortais
abraços! D
(A Nestor Vítor Por Devotamento e
Admiração. Cruz e Sousa. 12/10/1897)
Pacto das Almas - longe de tudo
O poeta fala da
vida do ser humano como uma experiência passageira destinada ao fim, revela ser a alma a única parte imortal e
serena que é livre de apegos e pode resgatar-se a si e aos seus amigos.
Análise estrutural
Análise estrutural
Soneto, os versos são livres.
Há rimas pobres e ricas: matéria-sidéria,
peregrinos – divinos, miséria-deletéria, assassinos destinos, brama – lama,
perfeitas – eleitas.
Rimas cruzadas ABBA ABBA,CCD, EED
Metáforas - astros peregrinos,
trágica miséria,vã matéria,surdos abismos assassinos.
Aliterações: livre, livre, grande,
grande.
Assonâncias: brama, lama, perfeitas,
eleitas.
|
DE ALMA EM ALMA
Tu andas de alma em
alma errando, errando, A
como de santuário em
santuário. B
És o secreto e místico
templário B
As almas, em silêncio,
contemplando. A
Não sei que de harpas
há em ti vibrando, A
que sons de peregrino
estradivário B
Que lembras
reverências de sacrário B
E de vozes celestes
murmurando. A
Mas sei que de alma em
alma andas perdido C
Atrás de um belo mundo
indefinido C
De silêncio, de Amor,
de Maravilha. D
Vai! Sonhador das
nobres reverências! E
A alma da Fé tem
dessas florescências, E
Mesmo da Morte
ressuscita e brilha! D
Análise estrutural
Análise estrutural
Soneto- assonâncias - santuário - templário, estradivário- sacrário, perdido- indefinido, reverências florescências |
Cárcere das almas
Cruz e Sousa
Ah! Toda a Alma num cárcere anda
presa, A
soluçando nas trevas, entre as
grades B
do calabouço olhando
imensidades, B
mares, estrelas, tardes, natureza. A
Tudo se veste de uma igual grandeza A
quando a alma entre grilhões as
liberdades B
sonha e sonhando, as
imortalidades B
rasga no etéreo Espaço da Pureza. A
Ó almas presas, mudas e fechadas C
nas prisões colossais e abandonadas, C
da Dor no calabouço, atroz, funéreo! D
Nesses silêncios solitários, graves,E
que chaveiro do Céu possui as chaves E
para abrir-vos as portas do Mistério?!D
Análise estrutural
Soneto – composto por quatro estrofes ( dois quartetos – quatro versos
e dois tercetos – três versos).
Aliterações – sonha e sonhando/ silêncios solitários.
Assonância – mares, estrelas, tardes, natureza, Céu possui chaves
.
Os versos são decassílabos – dez sílabas poéticas.
|
Os poemas de Cruz
e Sousa são demarcados por pessimismo, metáforas, perfeccionismo formal,
polissemias. A linguagem é geralmente indireta, no poema “Cárcere das Almas”
ele não utiliza a palavra corpo uma única vez para designar o quê a alma
habita, coloca assim a poesia dentro de um contexto religioso-filosófico
recheado de questões humanas de toda espécie. O cárcere das Almas como o
próprio título diz refere-se ao Guardião das Almas, o tema exposto trata das
almas presas e fechadas, não apenas da manifestação do “eu” lírico como
sentindo-se fechado e sim como fazendo parte de um grupo que tem os mesmos
sentimentos. A passagem – experiência individual – de cada um possui ao mesmo
tempo uma expressão de coletividade em relação as dores. A alma chora, porque
está “soluçando nas trevas”. Chora porque está privada de sua liberdade num
calabouço dentro de um mundo subterrâneo fazendo-nos interpretar que de certo
modo todos estamos configurados a estar em algum tipo de escravidão, cuja liberdade
não depende apenas de nós e sim de outros detalhes externos e subjetivos,
afinal,
“Que chaveiro do céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do
mistério?!”
Sacrilégio
Como a alma pura, que teu corpo
encerra, A
Podes, tão bela e sensual,
conter? B
Pura demais para viver na terra, A
Bela demais para no céu viver. B
Amo-te assim! - exulta, meu desejo! A
É teu grande ideal que te
aparece, B
Oferecendo loucamente o beijo, A
E castamente murmurando a prece! B
Amo-te assim, à fronte
conservando A
A parra e o acanto, sob o alvor do véu,
B
E para a terra os olhos
abaixando, A
E levantando os braços para o
céu. B
Ainda quando, abraçados, nos enleva A
O amor em que me abraso e em que te
abrasas, B
Vejo o teu resplandor arder na
treva A
E ouço a palpitação das tuas
asas. B
Em vão sorrindo, plácidos,
brilhantes, A
Os céus se estendem pelo teu
olhar, B
E, dentro dele, os serafins
errantes A
Passam nos raios claros do luar: B
Em vão! - descerras úmidos, e cheios A
De promessas, os lábios
sensuais, B
E, à flor do peito, empinam-se-te os
seios, A
Ameaçadores como dois punhais. B
Como é cheirosa a tua carne
ardente! A
Toco-a, e sinto-a ofegar, ansiosa e
louca. B
Beijo-a, aspiro-a... Mas sinto, de
repente, A
As mãos geladas e gelada a boca: B
Parece que uma santa imaculada A
Desce do altar pela primeira
vez, B
E pela vez primeira profanada A
Tem por olhos humanos a nudez... B
Embora! hei de adorar-te nesta vida, A
Já que, fraco demais para
perdê-la, B
Não posso um dia, deusa
foragida, A
Ir amar-te no seio de uma
estrela. B
Beija-me! Ficarei purificado A
Com o que de puro no teu beijo houver;
B
Ficarei anjo, tendo-te ao meu
lado: A
Tu, ao meu lado, ficarás mulher. B
Que me fulmine o horror desta
impiedade! A
Serás minha! Sacrílego e
profano, B
Hei de manchar a tua castidade A
E dar-te aos lábios um gemido humano! B
E à sombria mudez do santuário A
Preferirás o cálido fulgor B
De um cantinho da terra, solitário, A
Iluminado pelo meu amor... B
Olavo Bilac, in
"Poesias"
No plano
temático sobre a morte, a alma os dois poetas tem uma visão e uma expressão
muito distinta, além de pertencerem a períodos diferentes representantes de
movimentos contrários: O simbolista e o parnasiano.
Enquanto Cruz e Sousa ao falar da alma e da
liberdade não necessita usar a palavra corpo para fazer qualquer tipo de
referência ao suposto elemento de ligação entre o corpo-alma no poema “Cárcere
das Almas”, Bilac abre seu verso em “Sacrilégio” com “Como a alma pura, que teu corpo encerra,”, porque seus enfoques são
diferentes. Para o simbolista Cruz e Sousa a transcendência espiritual, a
integração cósmica, o mistério, o conflito entre a matéria e o espírito, a
angústia e a sublimação carregados de sinestesias, metáforas , aliterações e
assonâncias são muito mais fortes e necessárias do que são para o Parnasiano
Bilac, cuja preocupação está em fazer a arte pela arte porque a poesia vale por
si, não tendo assim nenhum tipo de compromisso a justificar, justificando-se
por sua beleza. Não assume nenhum tipo de compromisso, mas, esteticamente busca
a perfeição formal a todo custo, pois focaliza cada detalhe, o objeto se
singulariza, as palavras são raras e as rimas são ricas. O poeta apresenta o
fato, a personagem: a alma neste caso. Há uma ênfase das rimas do tipo ABAB
para estrofe de quatro versos.
Por Meire Ventura
poema de Cruz de Souza
A música da Morte, a nebulosa, A
estranha, imensa música sombria, B
passa a tremer pela minh'alma e
fria B
gela, fica a tremer, maravilhosa A
Onda nervosa e atroz, onda
nervosa, A
letes sinistro e torvo da
agonia, B
recresce a lancinante sinfonia B
sobe, numa volúpia dolorosa ... A
Sobe, recresce, tumultuando e
amarga, C
tremenda, absurda, imponderada e
larga, C
de pavores e trevas alucina ..D
E alucinando e em trevas
delirando, E
como um ópio letal,
vertiginando, E
os meus nervos, letárgica, fascina ...D
Análise estrutural
Dois quartetos e dois tercetos
Versos decassílabos: dez sílabas poéticas;
Esquema rítmico: ABBA, ABBA, CCD, EED;
Substantivos: Música, morte, alma, onda,
Letes, agonia, torvo, lancinante, dolorosa;
Adjetivos: estranha, imensa, sombria, fria,
maravilhosa, nervosa, atroz, sinistro, torvo, dolorosa;
Verbos: Passa, tremer, gela, recresce, sobe;
Figuras de linguagens: metáfora:
música/onda, música/Letes
Sinestesias: musica /fria
Gerundismo: tumultuando, alucinando,
delirando, vertiginando
O gerundismo enfatiza valores positivos e negativo, ora enfatiza o prazer que alucinógeno,ora relaciona-se com sofrimento, que também apresenta a musicalidade no poema.
Aliteração: Imensa, Música, sombria (S), outro recurso que contribui para a musicalidade.Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro significativo.
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mú/ si/ ca / da /
música da Morte, a nebulosa, A
estranha, imensa
música sombria, B
passa a tremer
pela minh'alma e fria B
Além da enumeração, percebe-se a relação com a presença da
morte como um paradoxo. Se por um lado a presença da morte gela e faz tremer na
alma, por outro, o eu lírico considera essas sensações maravilhosas.
Onda nervosa e atroz, onda nervosa, A
letes sinistro e
torvo da agonia, B
recresce a
lancinante sinfonia B
sobe, numa volúpia
dolorosa ... A
Na
segunda estrofe ele faz referência ao “Letes”, sobre a Onda nervosa e atroz,
dolorosa. Os pavores que alucina. O ópio letal palavra grega, significa (suco),
e faz referência ao deus da mitologia grega “Morfeu”,o deus dos sonhos. A ação
do ópio no homem provoca depressões do sistema nervoso central. Lete era o rio
que separava o mundo dos vivos do mundo dos mortos.
.
ÉREBO:
No Érebo viam-se os palácios da Noite, do Sono e dos Sonhos; era a morada de Cérbero, das Fúrias e da Morte. Era aí que erravam durante cem anos as desgraçadas sombras cujos corpos não tinham recebido sepultura; quando Ulisses evocou os mortos, aqueles que lhe apareceram, diz Homero, saíram todos do Érebo.
O INFERNO:
O Inferno dos maus era o lugar temível de todas as expiações:
era lá que o crime recebia o seu justo castigo, era lá que o remorso
atormentava as suas vítimas, era lá enfim que se faziam ouvir as lamentações e
os gritos agudos da dor. Aí estavam todos os gêneros de tortura. Essa região
horrível, cujas planícies eram apenas aridez, cujas montanhas eram apenas
rochas e declives, encerrava tanques gelados e lagos de enxofre e pez fervendo
onde as almas eram sucessivamente mergulhadas e passavam pelos suplícios de um frio
ou de um calor extremo. Essa região era cercada de pântanos lamacentos e
fétidos, de rios de águas empoçadas ou abrasadas, formando uma barreira
impossível de transpor; e não deixando às almas nem uma esperança de fuga, de consolação
nem de socorro.
O tártaro
Assim como Gaia é a personificação da Terra e Urano a personificação do
Céu, Tártaro é a personificação do Mundo
Inferior. Nele estão as grutas
mais profundas e os cantos mais terríveis do reino de Hades o mundo dos mortos, para onde todos os inimigos do Olimpo são
enviados e onde são castigados por seus crimes.
O Tártaro propriamente dito vinha depois desse Inferno: era
a prisão dos deuses.
Cercado de um tríplice muro de bronze, que sustentava os vastos fundamentos da
terra e dos mares. A sua profundidade era bem afastada do céu. Era aí que
estavam encerrados os Titãs,
os Gigantes e os deuses antigos expulsos do Olimpo pelos deuses que reinavam
vitoriosamente era lá que Também estava
o palácio do rei.
Os Campos Elíseos (Paraiso), eram a morada feliz das almas
virtuosas; reinava aí uma eterna primavera, a terra sempre alegre cobria-se
incessantemente de verdura, de folhagem, de flores e de frutos. À sombra dos
bosques embalsamados, das moitas de roseiras e de mirtos, alegrados pelo canto
e pelo gorjeio das aves, regados pelas águas do Letes, correndo em doce murmúrio, as almas afortunadas gozavam o
mais delicioso repouso, uma perpétua mocidade, sem sobressaltos e sem dor.
Dante e Beatriz sendo recebidos no céu
No primeiro terceto:
tremenda, absurda,
imponderada e larga, C
É importante observar a relação com os verbos no presente, simbolizando
os movimentos das ondas que sobe, recresce formando o ritmo do poema. No
entanto, também faz relação com as ondas do rio (pavores que alucina), sendo
reafirmadas no último terceto do poema.
E alucinando e em
trevas delirando, E
como um ópio letal,
vertiginando, E
os meus nervos,
letárgica, fascina ..D
Considerações
simbólicas importantes abordadas no poema.
Foram
abordadas algumas características na estrutura do poema como: figuras de
linguagens,das quais os poetas simbolistas fazem uso como forma de expressar a
musicalidade priorizadas no contexto do simbolismo, no caso, nas obras de
Cruz de Souza. Porém, percebe-se um paradoxo entre as ideias. Pois ao mesmo
tempo que se refere a música da morte como nebulosa, estranha, sombria, que o
faz tremer a alma, também a considera maravilhosa. A letra maiúscula no título
do poema enfatiza a temática: Música da Morte. Também estão presentes as marcas
da mitologia grega como “Letes”, “Rio do esquecimento” em (A Divina
comédia de Dante). Ópio letal, palavra grega que significa (suco), após seco
chama-se pó de ópio, faz referência a Morfeu, o deus dos sonhos. Os adjetivos,
delirante, trevas, sombrios, tanto podem estar relacionados com o efeito da
droga (ópio),como as passagens do Inferno de Dante; frio e tremor, onde as
almas eram mergulhadas enfatizados pelos substantivo Ondas, os verbos Sobe e
Recresce pode simbolizar os movimentos das ondas e a musicalidade. Se por um
lado o soneto “Música da Morte” foge aos padrões de algumas obras do poeta que
expressa na arte a transfiguração da dor por enfrentar os problemas do
preconceito e da discriminação racial, não foge aos limites da condução humana,
dimensionado- as para o platonismo, ( mundo dos sonhos e das ideias de Platão),
a mitologia greco romana, deus dos sonhos. O Inferno de Dante,
intertextualidade com a filosofia decadentista de Schopenhauer, a relação metafísica
de Baudelaire, [...] “Credita-se a ele ter escrito aquilo que pode
entender-se como o mais profundo ensaio sobre a metafísica da droga: as
motivações mais profundas que conduzem alguém ao caminho das alucinações.
Ainda que, ao recorrer à elas seja um paraíso artificial e que no dia
seguinte o faça padecer de tremedeiras chorosas, e que grande parte da
sua “força de vontade” desabe, o viciado termina por descobrir “ uma fonte de
alegrias mórbidas”, servem para reafirmar sua relação transcendental com
a dor, o sofrimento, mistério, e inferno que são marcas constantes em
suas obras. Considerando-se seu pessimismo em relação ao mundo
real,”Agratificação psicológica que a religião provoca estaria sendo
substituída pelos efeitos deletórios das drogas”.
Por Fernando Queiroz
O espaço abaixo será destinado ao
público em geral (professores, estudantes, leitores, pesquisadores,
vestibulandos, etc.) O intuito é compartilhar as sensações, inquietações que os
poemas mostrados no blog causaram como efeito de imagem, sentido, etc. Após as
observações, faça um breve relato das impressões e sensações que as poesias
mostradas no blog causaram ou se preferires analise a poesia abaixo e deixe seu
comentário.
Referências Bibliográficas
Anotações relacionadas às aulas de Literatura Ocidental II
Anotações relacionadas às aulas de Literatura brasileira V
Estudos relacionados à disciplina Ocidental II (A Divina Comédia de Dante Guarniere)
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/baudelaire.htm: acesso em 22,11, 2015.
http://www.espiritualismo.info/mitologia_greco_romana_6.html:acesso em 20,11,2015
http://www.cebrid.epm.br/folhetos/opio_.htm:acesso em 20, 11,2015
ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia: Inferno, Purgatório e Paraíso. Tradução e
notas de Ítalo Eugênio Mauro. Em português e italiano (original). Editora 34, São Paulo, 1999.
Ser protagonista-Língua portuguesa -2º grau: ensino médio; obra coletiva, concebida,
desenvolvida por Edições SM; editor: Rogério de Araújo Ramos - 2 ed – São Paulo: Edições SM, 2003 – Coleção Ser protagonista;2http://jeffersonbessa2.blogspot.com.br/2009/12/musica-da-morte-um-poema-de-cruz-e.html acesso em 20, 11,2015