quarta-feira, 25 de novembro de 2015


SIMBOLISMO no BRASIL e no MUNDO
Integrantes: Clara, Bruno, Claudia, Meire e Fernando


      O blog tem a missão de proporcionar aos estudantes, professores, leitores e vestibulandos um espaço a pesquisa. O trabalho foi baseado na análise de poemas simbolistas e um parnasiano. Diante disso, agradecemos os comentários a cerca do trabalho. Pois, o intuito é alimentar o blog com informações ou sugestões enriquecedoras. 


Por Clara Silva


Celeste

Vi-te crescer! tu eras a criança         A                              
 Mais linda, mais gentil, mais delicada:     B                   Rimas interpoladas
Tinhas no rosto as cores da alvorada   B
E o sol disperso pela loira trança.        A

Asas tinhas também, as da esperança...  A
E de tal sorte eras sutil e alada  B                              Rimas interpoladas
Que parecias ave arrebatada  B
Na luz do Espaço onde a razão descansa!  A

Depois, então, fizeste-te menina,  C
Visão de amor, puríssima, divina, C
Perante a qual ainda hoje me ajoelho.  D                  Rimas emparelhadas 

Cresceste mais! És bela e moça agora...  E
Mas eu, que acompanhei toda essa aurora, E
Sinto bem quanto estou ficando velho   D



Análise estrutural


Soneto decassílabo
Rimas interpoladas nos quartetos: ABBA ABBA  e emparelhadas nos tercetos
Rimas soantes agudas: criança/trança/esperança/descansa;                 delicada/alvorada/alada/arrebatada; menina/divina; agora/aurora
Rimas graves imperfeitas: ajoelho/velho
Rimas ricas: esperança/descansa; alada/arrebatada; agora/aurora
Metáforas, símile e sinestesia destacadas em negrito



O soneto de Cruz e Sousa apresenta uma linguagem simples cheia de verbos de ligação e adjetivos que caracterizam o estado de alma do eu-lírico e a essência de sua interlocutora, por assim dizer. As construções verbais no passado nos dois quartetos vivificam a memória do eu-lírico, suas lembranças são marcadas por metáforas e pela caracterização quase romântica de sua celeste. Rememora quando esta figura feminina ainda na mais tenra idade tinha as faces rubras, figuradas pelas cores da alvorada de sua vida, que então despontava como o raiar da manhã, na qual o sol, acabado de nascer dá aos cabelos da menina, suas cores primárias e luminosas. No segundo quarteto outra metáfora caracteriza a moça pela leveza das asas de uma ave sutil e de agradável presença. A esperança aparece travestida de ave, o que nos leva a crer que a própria criança representa simbolicamente uma confiança no futuro ainda distante. O jogo entre Espaço e o título do poema, Celeste, sugere muito sobre a forma como a menina se relaciona com o meio em que estava inserida. Este  meio representado pelo Espaço onde, cercado por adultos, a razão, a intelectualidade e teorias quânticas da existência são seus mais prototípicos elementos, aquele corpo celeste viria como uma contraposição da dureza desta tradição cientificista, como o simbolismo procurou tratar as mudanças sociais nos fins do século XIX e início do século XX. Esta figura celeste, com sua beleza, amabilidade e sutilezas não se estanca neste estágio; o eu-lírico descreve com igual devoção a segunda fase da vida desta figura feminina, período que corresponderia à segunda infância e pré-adolescência nos termos etários não poéticos. O eu lírico permanece em seu estado de admiração e enlevo pela celestial menina, elevando-lhe agora sua caracterização culminando no adjetivo divina, ponto supremo de transcendência e imaterialidade da menina que acompanha. Marca sua admiração e a manutenção de seu encantamento ao finalizar a terceira estrofe com o verbo no presente. Todos estes elementos anteriormente mencionados são ainda motivo de devoção. Esta espécie de gradação temporal com os verbos de ligação no pretérito, sobretudo, estabelecem um plano de correspondências no soneto, fechando o último terceto com o paralelismo que o eu-lírico estabelece entre ele mesmo, agora velho, e a celeste agora moça.A passagem do tempo, uma das grandes temáticas da estética simbolista está presente neste texto e de forma sutil, com diferentes recursos expressivos, constrói um percurso metafórico bastante importante e melancólico desde o nascimento até a velhice fazendo uma outra correspondência entre a aurora do dia e a vida. 
     A aurora da vida da celeste mais que uma experiência particular pode ser tomada como metonímica da experiência humana, em que todos nascem, crescem, e um dia chegam ao final da aurora, ou pôr do sol. Este final da vida, apesar de não retratado explicitamente traz ao eu-lírico uma melancolia e sensação de passagem do tempo inevitável e inerente à existência, que acumula sensações, memórias e experiências significativas tanto interiormente quanto em contato com o outro.



Por Bruno Magalhães


DILACERAÇÕES
Ó carnes que eu amei sangrentamente,
Ó volúpias letais e dolorosas,
Essências de heliotropos e de rosas
De essência morna, tropical, dolente...

Carnes virgens e tépidas do Oriente
Do Sonho e das Estrelas fabulosas,
Carnes acerbas e maravilhosas,
Tentadoras do sol intensamente...

Passai, dilaceradas pelos zeros,
Através dos profundos pesadelos
Que me apunhalam de mortais horrores...

Passai, passai, desfeitas em tormentos,
Em lágrimas, em prantos, em lamentos,
Em ais, em luto, em convulsões, em cores...




    O 'Eu' lírico do poeta conversa com o locutário sobre o comportamento do ser humano e a interação dele com a própria alma e as outras almas, fala também da imortalidade da alma.
Quanto a estrutura o poema apresenta as características do soneto: Assonância: estranha, imensa, música, sombria, tremenda, absurda, imponderada, larga: repetição de sons vocálicos idênticos (vogal A), contribuindo para a musicalidade.





Análise estrutural


Esquema rímico: ABBA ABBA CCD CCD
Palavras de destaque: carnes, volúpias (prazeres), dolente, acerbas (azedas, cruéis), pesadelos, apunhalam, mortais horrores, tormentos, lágrimas, prantos, lamentos, luto, convulsões.









       





O poema Dilacerações, de Cruz e Sousa, evoca as lembranças afetivas do eu-lírico para com a carne, definida por ele através das antíteses “volúpias letais e dolorosas” e “acerbas e maravilhosas”. A ideia construída pelo poema parece almejar o desprendimento do que é concreto, da carne, já que ela, apesar de ter sido maravilhosa, apunhala o eu-lírico pelas costas através de pesadelos e acaba por desmanchar-se em lágrimas, prantos, lamentos, ais, luto, convulsões e cores.
Os últimos versos deixam claro que os prazeres passam, mas eles acabam por deixar consequências: a tristeza e o sofrimento. As expressões “passai, passai” do eu-lírico também expressam um sentimento de desejo que se contrapõe ao das duas primeiras estrofes: apesar de reconhecer o sofrimento nas duas primeiras estrofes, a carne ainda é prazerosa, mas, nas duas últimas, o desejo já é o de que estes sentimentos vão embora. Estas ideias também podem ser representadas pelo próprio esquema rímico, já que as duas primeiras estrofes e as duas últimas possuem um padrão — ABBA e ABBA, representando o mesmo desejo do prazer, e CCD e CCD, representando a vontade de que o sofrimento consequente do prazer acabe. Uma característica bastante forte do poema é a constante incidência da consoante “S” durante a leitura, que, em termos onomatopaicos, pode representar uma turbulência ou até mesmo uma tentativa de demarcar todo o poema com o “S” da palavra sofrimento.




Por Claudia Faria

Pacto das Almas - (II) Longe de tudo


É livre, livre desta vã matéria, A
Longe, nos claros astros peregrinos B
Que haveremos de encontrar os dons divinos B
E a grande paz, a grande paz sidérea. A

Cá nesta humana e trágica miséria, A
Nestes surdos abismos assassinos B
Temos de colher de atros destinos B
A flor apodrecida e deletéria. A

O baixo mundo que troveja e brama C
Só nos mostra a caveira e só a lama, C
Ah! só a lama e movimentos lassos... D

Mas as almas irmãs, almas perfeitas, E
Hão de trocar, nas Regiões eleitas, E
Largos, profundos, imortais abraços! D

(A Nestor Vítor Por Devotamento e Admiração. Cruz e Sousa. 12/10/1897)

Pacto das Almas - longe de tudo

     O poeta fala da vida do ser humano como uma experiência passageira destinada ao fim,  revela ser a alma a única parte imortal e serena que é livre de apegos e pode resgatar-se a si e aos seus amigos.

Análise estrutural

      
Soneto, os versos são livres.
Há rimas pobres e ricas: matéria-sidéria, peregrinos – divinos, miséria-deletéria, assassinos destinos, brama – lama, perfeitas – eleitas.
Rimas cruzadas ABBA ABBA,CCD, EED
Metáforas - astros peregrinos, trágica miséria,vã matéria,surdos abismos assassinos.
Aliterações: livre, livre, grande, grande.
Assonâncias: brama, lama, perfeitas, eleitas.





DE ALMA EM ALMA


Tu andas de alma em alma errando, errando, A
como de santuário em santuário. B
És o secreto e místico templário B
As almas, em silêncio, contemplando. A

Não sei que de harpas há em ti vibrando, A
que sons de peregrino estradivário B
Que lembras reverências de sacrário B
E de vozes celestes murmurando. A

Mas sei que de alma em alma andas perdido C
Atrás de um belo mundo indefinido C
De silêncio, de Amor, de Maravilha. D

Vai! Sonhador das nobres reverências! E
A alma da Fé tem dessas florescências, E
Mesmo da Morte ressuscita e brilha! D

Análise estrutural


Soneto- assonâncias - santuário - templário, estradivário- sacrário, perdido- indefinido, reverências florescências


Cárcere das almas
Cruz e Sousa



Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa, A
soluçando nas trevas, entre as grades B
do calabouço olhando imensidades, B
mares, estrelas, tardes, natureza. A

Tudo se veste de uma igual grandeza A
quando a alma entre grilhões as liberdades B
sonha e sonhando, as imortalidades B
rasga no etéreo Espaço da Pureza. A

Ó almas presas, mudas e fechadas C
nas prisões colossais e abandonadas, C
da Dor no calabouço, atroz, funéreo! D

Nesses silêncios solitários, graves,E
que chaveiro do Céu possui as chaves E
para abrir-vos as portas do Mistério?!D

Análise estrutural

  
Soneto – composto por quatro estrofes ( dois quartetos – quatro versos e dois tercetos – três versos).
Aliterações – sonha e sonhando/ silêncios solitários.
Assonância – mares, estrelas, tardes, natureza, Céu possui chaves . 
Os versos são decassílabos – dez sílabas poéticas.


            Os poemas de Cruz e Sousa são demarcados por pessimismo, metáforas, perfeccionismo formal, polissemias. A linguagem é geralmente indireta, no poema “Cárcere das Almas” ele não utiliza a palavra corpo uma única vez para designar o quê a alma habita, coloca assim a poesia dentro de um contexto religioso-filosófico recheado de questões humanas de toda espécie.  O cárcere das Almas como o próprio título diz refere-se ao Guardião das Almas, o tema exposto trata das almas presas e fechadas, não apenas da manifestação do “eu” lírico como sentindo-se fechado e sim como fazendo parte de um grupo que tem os mesmos sentimentos. A passagem – experiência individual – de cada um possui ao mesmo tempo uma expressão de coletividade em relação as dores. A alma chora, porque está “soluçando nas trevas”. Chora porque está privada de sua liberdade num calabouço dentro de um mundo subterrâneo fazendo-nos interpretar que de certo modo todos estamos configurados a estar em algum tipo de escravidão, cuja liberdade não depende apenas de nós e sim de outros detalhes externos e subjetivos, afinal,
“Que chaveiro do céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do mistério?!”      




Sacrilégio

Como a alma pura, que teu corpo encerra, A
Podes, tão bela e sensual, conter? B
Pura demais para viver na terra, A
Bela demais para no céu viver. B

Amo-te assim! - exulta, meu desejo! A
É teu grande ideal que te aparece, B
Oferecendo loucamente o beijo, A
E castamente murmurando a prece! B

Amo-te assim, à fronte conservando A
A parra e o acanto, sob o alvor do véu, B
E para a terra os olhos abaixando, A
E levantando os braços para o céu. B

Ainda quando, abraçados, nos enleva A
O amor em que me abraso e em que te abrasas, B
Vejo o teu resplandor arder na treva A
E ouço a palpitação das tuas asas. B

Em vão sorrindo, plácidos, brilhantes, A
Os céus se estendem pelo teu olhar,  B
E, dentro dele, os serafins errantes A
Passam nos raios claros do luar: B






Em vão! - descerras úmidos, e cheios A
De promessas, os lábios sensuais, B
E, à flor do peito, empinam-se-te os seios, A
Ameaçadores como dois punhais.  B

Como é cheirosa a tua carne ardente!  A
Toco-a, e sinto-a ofegar, ansiosa e louca. B
Beijo-a, aspiro-a... Mas sinto, de repente, A
As mãos geladas e gelada a boca: B

Parece que uma santa imaculada A
Desce do altar pela primeira vez, B
E pela vez primeira profanada A
Tem por olhos humanos a nudez... B

Embora! hei de adorar-te nesta vida, A
Já que, fraco demais para perdê-la,  B
Não posso um dia, deusa foragida, A
Ir amar-te no seio de uma estrela. B

Beija-me! Ficarei purificado A
Com o que de puro no teu beijo houver; B
Ficarei anjo, tendo-te ao meu lado: A
Tu, ao meu lado, ficarás mulher. B

Que me fulmine o horror desta impiedade! A
Serás minha! Sacrílego e profano, B
Hei de manchar a tua castidade A
E dar-te aos lábios um gemido humano! B


E à sombria mudez do santuário A
Preferirás o cálido fulgor B
De um cantinho da terra, solitário, A
Iluminado pelo meu amor... B

Olavo Bilac, in "Poesias" 

      No plano temático sobre a morte, a alma os dois poetas tem uma visão e uma expressão muito distinta, além de pertencerem a períodos diferentes representantes de movimentos contrários: O simbolista e o parnasiano.
    Enquanto Cruz e Sousa ao falar da alma e da liberdade não necessita usar a palavra corpo para fazer qualquer tipo de referência ao suposto elemento de ligação entre o corpo-alma no poema “Cárcere das Almas”, Bilac abre seu verso em “Sacrilégio” com “Como a alma pura, que teu corpo encerra,”, porque seus enfoques são diferentes. Para o simbolista Cruz e Sousa a transcendência espiritual, a integração cósmica, o mistério, o conflito entre a matéria e o espírito, a angústia e a sublimação carregados de sinestesias, metáforas , aliterações e assonâncias são muito mais fortes e necessárias do que são para o Parnasiano Bilac, cuja preocupação está em fazer a arte pela arte porque a poesia vale por si, não tendo assim nenhum tipo de compromisso a justificar, justificando-se por sua beleza. Não assume nenhum tipo de compromisso, mas, esteticamente busca a perfeição formal a todo custo, pois focaliza cada detalhe, o objeto se singulariza, as palavras são raras e as rimas são ricas. O poeta apresenta o fato, a personagem: a alma neste caso. Há uma ênfase das rimas do tipo ABAB para estrofe de quatro versos.          



Por Meire Ventura
 poema de Cruz de Souza   
                                                                           
A música  da Morte, a  nebulosa,  A
estranha, imensa música sombria, B
passa a tremer pela minh'alma e fria B
gela, fica a tremer, maravilhosa A


Onda nervosa e atroz, onda nervosa, A
letes sinistro e torvo da agonia, B
recresce a lancinante sinfonia B
sobe, numa volúpia dolorosa ... A

Sobe, recresce, tumultuando e amarga, C
tremenda, absurda, imponderada e larga, C
de pavores e trevas alucina ..

E alucinando e em trevas delirando, E
como um ópio letal, vertiginando, E
os meus nervos, letárgica, fascina ...D

Análise estrutural


 Dois quartetos e dois tercetos
 Versos decassílabos: dez sílabas poéticas;
 Esquema rítmico: ABBA, ABBA, CCD, EED;
 Substantivos: Música, morte, alma, onda, Letes, agonia, torvo, lancinante, dolorosa;
 Adjetivos: estranha, imensa, sombria, fria, maravilhosa, nervosa, atroz, sinistro, torvo,  dolorosa;
 Verbos: Passa, tremer, gela, recresce, sobe;
 Figuras de linguagens: metáfora: música/onda, música/Letes
 Sinestesias: musica /fria
Gerundismo: tumultuando, alucinando, delirando, vertiginando
O gerundismo enfatiza valores positivos e negativo, ora enfatiza o prazer que alucinógeno,ora relaciona-se com sofrimento, que também apresenta a musicalidade no poema.
Aliteração: Imensa, Música, sombria (S), outro recurso que contribui para a musicalidade.Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro significativo.





          
mú/ si/ ca / da /
                        música da  Morte, a nebulosa, A
estranha, imensa música sombria, B
passa a tremer pela minh'alma e fria B
gela, fica a tremer, maravilhosa A

    Além da enumeração, percebe-se a relação com a presença da morte como um paradoxo. Se por um lado a presença da morte gela e faz tremer na alma, por outro, o eu lírico considera essas sensações maravilhosas.
        
       Onda nervosa e atroz, onda nervosa, A
letes sinistro e torvo da agonia, B
recresce a lancinante sinfonia B
sobe, numa volúpia dolorosa ... A

       Na segunda estrofe ele faz referência ao “Letes”, sobre a Onda nervosa e atroz, dolorosa. Os pavores que alucina. O ópio letal palavra grega, significa (suco), e faz referência ao deus da mitologia grega “Morfeu”,o deus dos sonhos. A ação do ópio no homem provoca depressões do sistema nervoso central. Lete era o rio que separava o mundo dos vivos do mundo dos mortos.
Na mitologia grego romana, os Infernos são os lugares subterrâneos onde descem as almas depois da morte para ser julgadas, e receber o castigo dos seus crimes ou a recompensa das boas ações, e são divididos em quatro partes. O Rio Lete (Rio do esquecimento ou ocultação), é um rio do Hades onde quem bebia de sua água esquecia – se das vidas passadas.  Com isso o Lete passou a simbolizar o esquecimento. Algumas religiões esotéricas ensinavam que havia um outro rio, o Mnemósine, e beber das suas águas faria recordar tudo e alcançar a onisciência. Aos iniciados, ensinava-se que, se lhes fosse dado escolher de que rio beber após a morte, deveriam  beber do Mnemósine em lugar do Lete. Os dois rios aparecem em vários versos inscritos em placas de ouro do século IV a.C. em diante, em Túrio, no sul da península Itálica, e por todo o mundo grego.

A primeira, a mais vizinha da terra, era o Érebo; para além estava o Inferno dos maus; a terceira região compreendia o Tártaro, e a quarta os Campos Elíseos. (imagens abaixo de Gustave Doré - Descidas no inferno de Dante na obra Divina Comédia).
                      .





ÉREBO:
       
   No Érebo viam-se os palácios da  Noite, do Sono e dos Sonhos; era a morada de Cérbero, das Fúrias e da Morte. Era aí que erravam durante cem anos as desgraçadas sombras cujos corpos não tinham recebido sepultura; quando Ulisses evocou os mortos, aqueles que lhe apareceram, diz Homero, saíram todos do Érebo.


O INFERNO:
      O Inferno dos maus era o lugar temível de todas as expiações: era lá que o crime recebia o seu justo castigo, era lá que o remorso atormentava as suas vítimas, era lá enfim que se faziam ouvir as lamentações e os gritos agudos da dor. Aí estavam todos os gêneros de tortura. Essa região horrível, cujas planícies eram apenas aridez, cujas montanhas eram apenas rochas e declives, encerrava tanques gelados e lagos de enxofre e pez fervendo onde as almas eram sucessivamente mergulhadas e passavam pelos suplícios de um frio ou de um calor extremo. Essa região era cercada de pântanos lamacentos e fétidos, de rios de águas empoçadas ou abrasadas, formando uma barreira impossível de transpor; e não deixando às almas nem uma esperança de fuga, de consolação nem de socorro.

O tártaro

Assim como Gaia é a personificação da Terra e Urano a personificação do Céu, Tártaro é  a personificação do Mundo Inferior. Nele estão as  grutas mais profundas e os cantos mais terríveis do reino de Hades o mundo dos mortos, para onde todos os inimigos do Olimpo são enviados e onde são castigados por seus crimes.
        O Tártaro propriamente dito vinha depois desse Inferno: era a prisão dos deuses. Cercado de um tríplice muro de bronze, que sustentava os vastos fundamentos da terra e dos mares. A sua profundidade era bem afastada do céu. Era aí que estavam encerrados os Titãs, os Gigantes e os deuses antigos expulsos do Olimpo pelos deuses que reinavam vitoriosamente era lá que  Também estava o palácio do rei.
         Os Campos Elíseos  (Paraiso), eram a morada feliz das almas virtuosas; reinava aí uma eterna primavera, a terra sempre alegre cobria-se incessantemente de verdura, de folhagem, de flores e de frutos. À sombra dos bosques embalsamados, das moitas de roseiras e de mirtos, alegrados pelo canto e pelo gorjeio das aves, regados pelas águas do Letes, correndo em doce murmúrio, as almas afortunadas gozavam o mais delicioso repouso, uma perpétua mocidade, sem sobressaltos e sem dor.
                                                               
Dante e Beatriz sendo recebidos no céu 
                                                                                      












No primeiro terceto:


tremenda, absurda, imponderada e larga, C


    É importante observar a relação com os verbos no presente, simbolizando os movimentos das ondas que sobe, recresce formando o ritmo do poema. No entanto, também faz relação com as ondas do rio (pavores que alucina), sendo reafirmadas no último terceto do poema.


E alucinando e em trevas delirando, E
como um ópio letal, vertiginando, E 
os meus nervos, letárgica, fascina ..D

Considerações simbólicas importantes abordadas no poema.
      
    Foram abordadas algumas características na estrutura do poema como: figuras de linguagens,das quais os poetas simbolistas fazem uso como forma de expressar a musicalidade priorizadas no contexto do simbolismo, no caso, nas obras  de Cruz de Souza. Porém, percebe-se um paradoxo entre as ideias. Pois ao mesmo tempo que se refere a música da morte como nebulosa, estranha, sombria, que o faz tremer a alma, também a considera maravilhosa. A letra maiúscula no título do poema enfatiza a temática: Música da Morte. Também estão presentes as marcas da mitologia grega como “Letes”, “Rio do esquecimento” em  (A  Divina comédia de Dante). Ópio letal, palavra grega que significa (suco), após seco chama-se pó de ópio, faz referência a Morfeu, o deus dos sonhos.  Os adjetivos, delirante, trevas, sombrios, tanto podem estar relacionados com o efeito da droga (ópio),como as passagens do Inferno de Dante; frio e tremor, onde as almas eram mergulhadas enfatizados pelos substantivo Ondas, os verbos Sobe e Recresce pode simbolizar os movimentos das ondas e a musicalidade. Se por um lado o soneto “Música da Morte” foge aos padrões de algumas obras do poeta que expressa na arte a transfiguração da dor por enfrentar os problemas do preconceito e da discriminação racial, não foge aos limites da condução humana, dimensionado- as para o platonismo, ( mundo dos sonhos e das ideias de Platão), a  mitologia greco romana, deus dos sonhos. O Inferno de Dante,  intertextualidade com a filosofia decadentista de Schopenhauer, a relação metafísica de  Baudelaire, [...] “Credita-se a ele ter escrito aquilo que pode entender-se como o mais profundo ensaio sobre a metafísica da droga: as motivações mais profundas que conduzem alguém ao caminho das alucinações.  Ainda que, ao recorrer à elas seja um paraíso artificial e que no dia seguinte  o faça padecer de tremedeiras chorosas, e que grande parte da sua “força de vontade” desabe, o viciado termina por descobrir “ uma fonte de alegrias mórbidas”, servem para reafirmar sua relação transcendental  com  a dor, o sofrimento,  mistério, e inferno que são marcas constantes em suas obras. Considerando-se seu pessimismo em relação ao mundo real,”Agratificação psicológica que a religião provoca estaria sendo  substituída pelos efeitos deletórios das drogas”.  


Por Fernando Queiroz


            O espaço abaixo será destinado ao público em geral (professores, estudantes, leitores, pesquisadores, vestibulandos, etc.) O intuito é compartilhar as sensações, inquietações que os poemas mostrados no blog causaram como efeito de imagem, sentido, etc. Após as observações, faça um breve relato das impressões e sensações que as poesias mostradas no blog causaram ou se preferires analise a poesia abaixo e deixe seu comentário. 

















Referências Bibliográficas 


Anotações relacionadas às aulas de Literatura Ocidental II

Anotações relacionadas às aulas de Literatura brasileira V

Estudos relacionados à disciplina Ocidental II (A Divina Comédia de Dante Guarniere)

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/baudelaire.htm: acesso em 22,11, 2015.

http://www.espiritualismo.info/mitologia_greco_romana_6.html:acesso em 20,11,2015

http://www.cebrid.epm.br/folhetos/opio_.htm:acesso em 20, 11,2015

ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia: Inferno, Purgatório e Paraíso. Tradução e 

notas de Ítalo Eugênio Mauro. Em português e italiano (original). Editora 34, São Paulo, 1999.

Ser protagonista-Língua portuguesa -2º grau: ensino médio; obra coletiva, concebida, 

desenvolvida por Edições SM; editor: Rogério de Araújo Ramos  - 2 ed – São Paulo: Edições SM, 2003 – Coleção Ser protagonista;2http://jeffersonbessa2.blogspot.com.br/2009/12/musica-da-morte-um-poema-de-cruz-e.html acesso em 20, 11,2015